domingo, 23 de outubro de 2011

O valor do inusitado

Desde os meus 11 anos, adotei o uso de uma agenda pessoal. No começo, ela era usada literalmente como diário, local onde eu escrevia desde os acontecimentos mais interessantes do meu dia a dia até os mais triviais, além de alguns segredos (que nem eram tão secretos assim). Mais tarde, passei a utilizá-la também para marcar os meus compromissos. Ela tinha dupla função: passado e futuro se encontravam nas páginas deste meu artefato tão íntimo. Hoje, ela é utilizada muito mais para marcar o que preciso fazer. Abandonei o hábito de escrever o que me acontece diariamente (até porque não sobra muito tempo para isso). Eventualmente, colo ingressos dos espetáculos que vou prestigiar (considero uma bonita recordação) e também penduro textos e desenhos com os quais me identifico e os quais expressam um pouco dos meus pensamentos ( mesmo que não sejam de minha autoria).
Mas enfim,essa introdução foi só para dar início ao assunto que eu quero abordar. Como já disse, hoje minha agenda cumpre a função mais primordial de objetos da sua espécie, ou seja, registrar compromissos e atividades que não posso esquecer de realizar. Normalmente, escrevo a caneta e se tem uma coisa que sempre me chateou foi registrar eventos na minha agenda e precisar rasurá-los pois acabaram sendo desmarcados por terceiros.
Porém, esses dias estava refletindo sobre isso e percebi que não havia motivo para considerar esse risco sobre as letras uma coisa ruim. Afinal, que graça teria a vida se tudo o que planejássemos acontecesse na hora e no momento previsto, exatamente como imaginamos. Na maioria das vezes, os acontecimentos mais divertidos são aqueles que não estavam em nossos planos. Ou então estavam, mas acontecerão completamente diferente do que pensávamos e muito melhor do que havíamos imaginado. A verdade é que os fatos inesperados são vividos com maior intensidade e autenticidade.
Confesso que ainda não gosto quando pessoas desmarcam encontros, especialmente em cima da hora. Mas, aprendi a me estressar menos com as rasuras na minha agenda. Afinal, como acontece nos textos, quando rasuramos palavras normalmente é porque erramos ou queremos substituí-la por uma mais adequada. Na vida, quando desmarcamos algo é porque não era para acontecer ou porque ele será substituído por um acontecimento ainda melhor. Mesmo aqueles que tem tudo milimetricamente planejado precisam admitir: o inusitado também tem seu valor.