sexta-feira, 31 de agosto de 2012

As facetas da Nostalgia

Foto de Mauro de Blanco

Uma exposição de fotografias em preto e branco pode motivar muitas reflexões. Em um sábado de agosoto fui até o museu municipal observar o acervo fotográfico deixado por Mauro de Blanco, um dos maiores fotógrafos da história caxiense.  E aquelas imagens me remeteram a uma época em que  tudo parecia mais natural, limpo, puro e belo. Uma Caxias em preto e branco em que os prédios, com sua beleza clássica, não estavam escondidos por enormes e desagradáveis banners gigantes, que destroem por completo a estética da área central. Uma cidade em que as olimpíadas municipais eram amplamente apreciadas, em que os desfiles de bandas eram considerados eventos marcantes e não uma incomoda obrigação, em que os pavilhões da renomada Festa da Uva  acabavam de ser construídos. E a nostalgia de tempos não vividos apareceu como um tsunami no meu mar de reflexões. Saí de lá ainda menos tolerante a vulgaridade estética e sonora que invadiu nossa cidade, fruto da ignorância e da perda de valores. Podem me chamar de careta, mas nunca vou me acostumar à superficialidade e apologia ao consumismo em que estamos mergulhados. O lado obscuro da tão aclamada modernidade.

No mesmo dia fui até o shopping reencontrar algumas das ‘velhas’ amigas, do tempo do colégio. De cabelos mais curtos, mais lisos ou naturais, a conversa demonstrou que, diferente de nossas aparências, a afinidade permanecia intacta, comprovando que amizades verdadeiras não têm prazo de validade, e que, como diria Shakespeare ‘continuam a crescer mesmo a longas distâncias’. Uma dessas amigas nos entregou o convite do aniversário de 15 da sua irmã, e então, mais um momento nostálgico. Dessa vez, recordações de uma época já vivida, em que nossas maiores preocupações eram o presente de 15 que iríamos comprar e a prova de matemática  do dia seguinte. Apesar da saudade desse período tão marcante, foi bom observar aqueles rostos há tempos conhecidos e perceber que agora, mais maduras e experientes, continuávamos sendo parceiras, confidentes, sendo as risadas o ingrediente principal dos nossos encontros. Nem a batata frita queimada atrapalhou este instante de re-vivências. Por coincidência, ou destino, no mesmo dia encontramos uma professora do ensino médio no shopping. Entre comprimentos e sorrisos, mais uma vez aquele sentimento de que o tempo não passou.

Um pettit gateau com sorvete e uns episódios divertidíssimos de Bob Esponja fecharam o dia. Um sábado em que experimentei os dois lados da nostalgia. Percebi que o tempo apenas passa e depende de nós honrar o passado, fazendo com que o presente seja uma dádiva da qual poderemos futuramente nos orgulhar. 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Palavras soltas



Livro entreaberto, palavra sonora: coadjuvante. Folha mofada. Mancha de vinho, cheiro de café. Máquina de escrever, noite em claro. Nostalgia. Déjà vu. Vidas passadas.
Rua de outono, barulho de salto, música imaginária.
Sorriso que fala, olhar que comunica, palavras que escondem. Subjetividade. Perfume no ar, clima ameno. Sensibilidade.
Cultura, arte clássica. Imortal. Marcas deixadas. Sabedoria transmitida. Experiências que ensinam, erros inevitáveis, triunfos possíveis. União, unidade, precisão.
Chocolate que derrete, aroma de tempero, azeite de oliva. Fome insaciável.
Abraço que consola,  silêncio que perdura, conversa que afaga. Amizade, diversidade. Coisas inexplicáveis que fazem sentido.
Bagunça organizada, organização descabida. Excesso de ideias ausência de tempo. Doze badaladas. Hora de sonhar.
Sol poente, céu rosado. Noite cai, lua minguante.
Ideias inteligíveis, palavras escritas e improfanáveis.  Frase inversa, reversa. Complemento, verbo, sujeito. Desordem insana. Peut-être. Incompreensível pela razão.

Hora do chá. Estamos atrasados. Para que? Não se sabe ao certo. Nada é muito certo quando se viaja no país das maravilhas. Feche os olhos. As repostas virão.



domingo, 8 de abril de 2012

Um pouco de mim

Acordo pela manhã e ponho o braço para fora da janela. Uma mania. Gosto de caminhar ouvindo música e fazendo planos. Leio no ônibus e não fico enjoada. Às vezes meus pensamentos não cabem dentro de mim. Tenho ataques de riso com frequência.  Gasto mais dinheiro em cafés e pubs charmosos do que em festas. E muito mais em livros do que em roupas. Tenho um encanto por livrarias e bibliotecas. Adoro fins de tarde. 
Tenho amigos de todos os estilos e sempre me identifico com algo em cada um deles.

O ballet clássico é uma arte que está impregnada em mim.  Parada, estou sempre na meia ponta. Uma música clássica me faz dançar sem que eu perceba. Sapatos de salto me causam mais dor nos pés do que sapatilhas de ponta. Alguns dias sem dança me causam síndrome de abstinência.

Não gosto de futebol, mas na copa do mundo pareço uma torcedora fanática e uma expert no assunto.

Amo a língua francesa, mas conheço mais vocabulário em inglês. Quero morar em Paris, mas uma viagem para Nova York também me encanta. O espanhol não me atrai, mas acho as músicas castelhanas um charme. Adoro tango.

Por falar em música, tenho uns gostos que ninguém entende. Meu celular tem mais música brasileira do que internacional (uma raridade hoje em dia). As músicas populares brasileiras antigas me emocionam. Meus cantores e cantoras favoritos já morreram e são os mesmos da minha vó. Gosto de rock, mas não conheço muita coisa. Adoro blues, mas não conheço quase nada.

Outras estranhezas: não gosto muito de feriados, especialmente nas quartas-feiras. Não tomo bebidas alcoólicas. O gosto não me agrada, e os efeitos muito menos. Gosto de trabalhar e de estudar assuntos relacionados à profissão que escolhi. O jornalismo é a minha paixão.

Adoro cachorros. Sonho em ter um cavalo. Já tive duas tartarugas.

Sou fascinada por coisas antigas. Às vezes acho que nasci na época errada. Quando viajo, passo mais tempo nos museus do que em qualquer outro lugar. Construções antigas, LPs, vitrolas, cartas, fotos em preto e branco. É tudo misteriosamente nostálgico.

Adoro escrever e guardar citações e frases profundas. Decoro músicas e poesias com facilidade.  Declaro poemas para eu mesma. Gosto de criar histórias na minha cabeça. Para escrever, gosto de crônicas. Para ler, de romances históricos e policiais. Adoro jornais e revistas com grandes reportagens.

Costumo dar mais valor aos cartões do que aos presentes. Tenho uma caixa repleta deles.

Já colecionei anéis de latinha, caracóis, adesivos e pontas de lápis de cor. Hoje coleciono ideias e projetos e tenho convicção de que um dia vou conseguir realizá-los. Sou sonhadora, idealista, filósofa, e tenho orgulho disso.

Filmes históricos, comédias românticas, biografias, dramas e aventuras são os gêneros de filmes que me agradam. Já suspense e terror, nem pensar. Desenhos estão entre os meus preferidos. Alguns, já assisti tantas vezes que sei as falas de cor.

Sou quieta, até você me conhecer realmente. Aí não fecho mais a matraca.

Minha mente é uma miscelânea não muito compreensível, como esse texto. Mas é na minha bagunça que eu me encontro (um dia).


domingo, 25 de março de 2012

A pena, o papel e a Bossa Nova


Às vezes sinto-me sufocada com minhas próprias palavras e reflexões. Não consigo recitar alguns dos meus pensamentos, e nem sequer pensá-los organizadamente.  Preciso escrever. A escrita para mim é aquela relação íntima entre eu, a caneta e o papel. É bem diferente da relação um tanto fria que existe entre os dedos e o teclado. Digitar é mais automático. Escrever exige intensidade e emoção. É uma forma de nostalgia.

Tenho ideias extremamente nostálgicas. Gosto de hábitos considerados antigos e pretendo realizá-los no futuro. Contraditório? Depende do ponto de vista.

Já vejo minha futura casa com uma sala repleta de livros. Meu paraíso secreto. Eu chego do trabalho, atiro a bolsa no sofá da sala, tiro os sapatos, desfaço o penteado e me atiro (com cansaço e alegria) na poltrona da minha mini biblioteca. Em seguida levanto ( porque não consigo ficar muito tempo parada), vou até a minha coleção de LPs e escolho o meu preferido: Elis e Tom. Coloco na vitrola.
Na sequência sirvo uma taça de vinho da safra de 1910 (ok, se continuar não gostando de vinho será suco de uva mesmo). Tomo um gole e observo a marca na taça deixada pelos vestígios de batom que ainda possuía nos lábios.

Finalmente vou até a escrivaninha, sento na cadeira e pego minha caneta-pena. Olho para o papel de tom amarelado e começo, mais uma vez, a me revelar tal como sou. Eu, a caneta, o papel e a sinfonia da bossa nova. Escrever é  e sempre será a minha única e mais eficaz terapia.


Obs: Por mais que esse texto venha a ser digitado, o primeiro passo foi transcrevê-lo para o papel.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Elis Regina - A estrela eterna

Elis. A voz que cantou e encantou o Brasil e o mundo. A voz que falou por todos, que cantou com a força e a graça que todos queriam e precisavam ter em tempos difíceis. Elis não foi uma simples cantora. Aliás, de simples ela não tinha nada. Ela foi a intérprete que, com toda a intensidade, personificou um Brasil de efervescência cultural, do surgimento da Bossa Nova, da boêmia carioca e da luta contra a censura. Elis não participou de passeatas ou grandes protestos contra o regime militar, mas sua voz cantando “O Bêbado e a Equilibrista” ou ainda “Chegadas e Partidas” foi ouvida por milhões de brasileiros e representou a dor de milhares de cidadãos que perderam ou foram afastados de amigos e familiares.

Elis nasceu em 1945. Naquela época, ninguém imaginava que aquela menina tímida de 1,5 m de altura e levemente vesga iria se transformar na “pimentinha”, amada pelo Brasil, que daria um golpe no conservadorismo. E sua morte precoce foi um grande susto para fãs, amigos, familiares e admiradores. A música nacional perdeu seu mais precioso diamante. Ela estava longe de ser um falto brilhante.

 Mas Elis não conquistou apenas pela sua voz e interpretação praticamente impecáveis. Ela encantou pelo sorriso e simpatia, pelo olhar e sinceridade, pela intensidade, autenticidade, bondade e inúmeros outros adjetivos terminados em “ade”, que atualmente parece estarem em extinção. Não lembro ao certo quando comecei a me interessar por Elis, mas lembro que ela me surpreendeu e envolveu como nenhum cantor atual seria capaz. Ouvindo suas músicas, sinto como se ela ainda estivesse viva.

Com o tempo e a maturidade, o interesse por sua música e história só aumentou. Assisti entrevistas, programas especiais, li sua biografia - que não pode ter nome mais adequado: “Furação Elis” -, visitei seu memorial em Porto Alegre, procurei seus discos entre os LPs de minha mãe e recentemente comprei o disco Falso Brilhante em uma loja de colecionadores. Ouvi na vitrola da minha vó, que também é uma grande fã e me contou várias histórias de quando Elis estava viva. Foi então que finalmente entendi: Elis é insubstituível.

 Trinta anos após sua morte, ela ainda é lembrada, suas músicas são tocadas nas rádios e seus fãs não a esqueceram. Ninguém conseguiu superá-la. Mas por um lado é bom que ela não esteja aqui para assistir a essa decadência musical brasileira.  A maioria dos bons cantores é antiga; e os cantores jovens que se salvam não fazem o sucesso que mereceriam.

Elis está longe de ser um meteoro desses que, com a mesma velocidade que surgem, desaparecem. Elis é como uma estrela: brilhante, inatingível e (excepcionalmente) eterna.







quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Viagens e retornos

Malas prontas. Tudo conferido. Um estoque considerável de livros selecionados. Acho que não esqueci nada. É hora de partir. Novos ares, novas paisagens. Pessoas diferentes, sotaques dos mais diversos. Viajar é muito bom. Mas voltar pra casa também é maravilhoso.
Quando passamos algum tempo fora costumamos sentir falta de casa. E dos amigos. Quando estamos longe parece que a saudade se mostra constante. Mesmo que você não veja essas pessoas todos os dias, quando se está em casa você sabe que é só pegar o telefone, discar aquele número que você sabe de cor e marcar um café ou um jantar pra botar a conversa em dia. Fora da cidade isso não é possível.
Voltar pra casa é como encontrar um sofá depois de uma longa caminhada em um belo parque. O passeio foi maravilhoso mas, no momento, aquele recanto aconchegante era tudo o que você estava precisando.
As viagens costumam durar o tempo que é preciso. Assim como tudo na vida tem o seu momento e duração mais oportunos. Dura o tempo necessário para sermos felizes. E para ficar registrado na nossa lembrança como um momento especial e inesquecível.
É como diz a música: “Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está, nem desistir nem tentar agora tanto faz, estamos indo de volta pra casa”.