Entretanro, na última sexta, a temática do programa me chamou a atenção. O assunto central eram os trabalhadores que ganham a vida nas ruas e conquistam os mais variados tipos de público. Por ser uma amante das artes de modo geral, o trecho que mais me envolveu foi o que falava dos artistas de rua. O escultor de areia talentosíssimo e as estátuas humanas... Estas me fizeram literalmente parar para assistir e ouvir um pouco as suas histórias. Sempre fui uma grande admiradora destes artistas que fazem parte do cenário das cidades e levam um pouco de beleza, arte, cultura, leveza e humanidade aos centros que estão cada vez mais cinzentos. Eles vão na contramão do corre-corre das grandes cidades, e as pessoas param para ver, pois ficam encantadas com a perfeição do trabalho. De certa forma, com muita maestria, eles conseguem combater a indiferença, um grande mal que está se disseminando nos dias atuais.
Porém, sempre existem aqueles que se tornaram tão indiferentes que sequer a arte conseguem reconhecer. Desta vez, a guarda municipal do Rio de Janeiro tornou-se a vilã por querer espantar o artista. Os guardas não queriam permitir que ele permanecesse ali, parado no centro do Rio. O artista perdeu a pose e chorou. Eu sentei na cama e chorei. Senti uma mistura de indignação e tristeza. Imagino que foi o mesmo que a estátua humana sentiu. Foi aí que ocorreu algo inusitado... O povo uniu-se ao artista em defesa da arte e do direito da liberdade de expressão. Muitas pessoas reuniram-se em volta da estátua e surgiram frases... palavras de um povo que não aguenta mais tanta injustiça... palavras de revolta, da sabedoria popular:
"Coitado do cara, trabalhando aí, não fez mal a ninguém..."
"Assaltar pode, roubar pode, trabalhar não..."
"É direito do ser humano se expressar."
"Um artista não podendo mostrar a obra dele."
Palavras simples de um povo simples que, apesar de todos os desencantos da vida, ainda sabe reconhecer a arte e estava disposto a defendê-la. A estátua também falou: "Eu só quero levar um mundo diferente pra muita gente". E assim, depois de algum tempo, os guardas resolveram permitir que o artista trabalhasse. Ele, com alívio e emoção perceptíveis, lançou a frase da vitória: "Venceu a arte!"
Neste momento, percebi que, por mais que a cultura não seja incentivada e valorizada como deveria, temos certo poder natural para reconhecê-la, e um instinto para defendê-la. Basta que não deixemos que a indiferença nos cegue.
A arte venceu, o povo brasileiro venceu, herois anônimos se revelaram. Senti um orgulho muito maior do que quando a seleção vence um jogo de futebol. Mais do que orgulho, senti admiração por todas estas pessoas que se uniram em defesa da justiça, da arte e do artista.
P.S.: Parabenizo também o jornalista Christian Caseli, que gravou este acontecimento com o celular e postou no You Tube com o título: "Proibido parar". E à equipe do Globo Repórter por perceber a relevância do fato e divulgá-lo ainda mais.
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